ANDRÉA BORBA
Andréa de Miranda Borba nasceu a 5 de agosto de 1956, na cidade de Recife, Pernambuco.
Advogada.
ANUÁRIO DE POETAS DO BRASIL. 2º. VOLUME. Organização de Aparício Fernandes. Capa de Ney Damasceno. Rio de Janeiro: Folha Carioca Editora Ltda., 1977. 496 p.
Ex. bibl. Antonio Miranda
ALLEGRETO
Cantem os brancos
cantem os negros
porque sem voz há tantos
e não se pode ter preconceitos.
Cantem os altos
cantem os baixos
porque sem tamanho há tantos
e não se pode ter dois tamanhos.
Cantem calados, cantem alados,
como se a espera da vida
fosse valsa e bailado.
E cantem também os coxos
sem pernas há tantos, meu Deus!
Cantem parados
o olhar fixo em montanhas
e montes de arranha-céus.
Cantem aqui, cantem ali
porque canto não tem canto
nem tem idioma certo.
Cantem todos, as aves, os jatos,
as asas encantando os céus,
cante aquele que tem fome,
o morto de sono, cante
o caído na cama, enfermo, doente,
cantem os sãos, cantem os pobres homens influentes
porque sem fome há tantos
e não se pode ter dó deles.
Cantem em qualquer espaço
o frio, o suor, a dor de cabeça;
cantem tudo, pois só assim vale a pena;
sorrir, a esmo, com a boca pequena,
amar, a troco de nada, com a alma em pedaços,
ser belo, se feio,
cantem assim mesmo, cantem
allegreto, allegreto, allegreto...
ÊXTASE
As rosas que cultivei estão murchas.
Outono, desprezo, covardia?
As casas, decepcionadas, desabaram.
Há escombros obstruindo as ruas,
velhos aturdidos, crianças impressionadas,
pensando ser o fim do mundo.
É o começo, tento gritar-lhes
e não me escutam.
O ESPELHO
Olho-me no espelho:
o rosto que vejo não é o meu.
Incontinenti chamo por alguém,
preciso descobrir quem está no meu lugar
e para onde fui.
*
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Página publicada em junho de 2021
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